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Pioneirismo baiano nos estudos sobre esquitossomose

Médico baiano destacou-se também pela identificação do schistosoma mansoni, a concentração da solução de tártaro emético para o tratamento da leishmaniose e do granuloma venéreo

Por Wagner Ferreira e Danilo Moraes – O tipo de verme descoberto por Pirajá da Silva, cientista baiano descobridor da doença Schistosoma mansoni, era uma espécie diferente da conhecida na Europa. Ele expelia ovos por via lateral, característica que despertou a curiosidade de Pirajá em suas observações diárias no Santa Izabel, e que foram decisivas para validação do novo exemplar para a zoologia. Naquela época, só se conhecia um tipo de schistosoma catalogado nos anais da medicina, este, que dentre outras características distintas, expelia ovos por um orifício terminal.

Em 1847, os aspectos clínicos da doença foram descritos pela primeira vez pelo japonês Fuji. No Egito, Theodor Bilharz tornou o parasito conhecido em 1852, a partir daí ele levou a denominação em alguns países de bilharziose. Quarenta anos depois, o renomado médico inglês Patrick Manson cogitou a existência de duas espécies de Schistosoma parasitas do homem. Hoje, sabe-se que são muitas: S. japonicum (esquistossomose japonesa), S. haematobium, (esquistossomose hematóbia, vesical ou urinária), S. interacalatum (esquistossomose intestinal, típica de países da África Central), S. mekongi (esquistossomose intestinal, comum no vale do rio Mekongi, no Laos e Camboja), S. bovis, S. mattheei e S. rodhaini (esquistossomoses de animais que, eventualmente, parasitam o homem na África) e S. mansoni (esquistossomose mansoni, única espécie de interesse médico para a saúde pública brasileira).

Em 1907, a espécie existente no Brasil, foi descrita pelo inglês Sambon, que a nomeou Schistosoma mansoni em homenagem a Manson. No mesmo ano, o brasileiro Pirajá da Silva estudou uma espécie encontrada na Bahia dizendo que, provavelmente, seria uma nova espécie e a chamou de Schistosoma americanum. Sambon já havia feito a sua descrição, mas a pequena quantidade de vermes estudados suscitou dúvidas em relação à validade do trabalho. Somente com as cuidadosas observações de Pirajá da Silva as incertezas taxonômicas foram suprimidas.

Ele realizou uma série de autópsias de casos humanos de onde foram retirados vermes, além de numerosos exames de fezes. Pirajá nunca foi plenamente reconhecido como o verdadeiro descobridor de Schistosoma mansoni e nem sequer é mencionado em relação à elucidação do ciclo de vida do parasita.

O médico e pesquisador titular da Fiocruz-BA Naftale Katz, reproduziu em seu artigo “Esquistossomose, xistosa, barriga d’água” algumas dificuldades vividas pelo pesquisador para que reconhecessem, junto com ele, a existência de uma nova espécie de parasita no Brasil. “Na carta de Ernst Nauck, então diretor da instituição alemã, Pirajá da Silva é referido como o estudioso que resolveu uma controvérsia sobre uma descoberta anterior. Em 1953, Philip Manson-Bahr publicou uma revisão em que ele reconheceu que Pirajá da Silva era o primeiro pesquisador a descrever o parasita que é agora conhecido como Schistosoma mansoni (Manson-Bahr 1953)”, explica Katz.

Homenageados com a medalha Pirajá da Silva (Foto: reprodução)

Quando teve certeza da sua descoberta, Pirajá da Silva enfrentou colegas, mestres, e o próprio Arthur Looss, professor de biologia e parasitologia da Escola de Medicina do Cairo e considerado o papa da helmintologia daquele período. A ousadia lhe rendeu a medalha Bernhard Nocht do Instituto Alemão de Doenças Tropicais de Hamburgo 1954. Dois anos depois, Pirajá recebeu a Grã-cruz da Ordem do Mérito Médico, conferida pelo então presidente do Brasil Juscelino Kubitschek, por destacados serviços prestados à ciência e à cultura médica do Brasil.

Entre outros feitos científicos realizados pelo médico baiano, destacaram-se, além da identificação do schistosoma mansoni, a concentração da solução de tártaro emético para o tratamento da leishmaniose e do granuloma venéreo. Pirajá da Silva morreu em sua casa, cercado pela família em São Paulo, no dia 1º de março de 1961 aos 88 anos.

Wagner Ferreira e Danilo Moraes são jornalistas e especialistas em Jornalismo Científico e Tecnológico pela Facom-Ufba.

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